Esquecem, e nem é por mal, que o verso dele é um perpétuo emigrante
tostado ao sol de abaixo de gibraltar e não de abaixo de braga
Para montar a chafarica de poeta maior foi ao banco de ceuta
depositar o olho direito (insista-se que o outro não era torto)
na conta corrente do ver muitíssimo bem o estertor imperial
que começou com ele e está há quatro séculos em câmara ardente
mas agora ou vai ou racha, isto é, já rachou e agora vai!
Esquecem, e trouxe-lhes algum bem, que se a alma dele gentil
tivesse ficado no corpo de escudeiro pobre a vadiar à porta
do s. bento de então, ou a curtir humanidades na coimbra beata
teríamos um poeta nacional, sim, mas nunca à escala do mundo
teríamos um escudeiro versejante, benzinho claro mas só mineteiro
teríamos um gordíssimo parnasinho de pau feito
mas nunca, nunquíssima as vertebradas musculadas lusíadas!
Esquecem, e fazem mal, que na primeira aguada pela rota do cabo
já o seu sangue mudava alternando a dieta náutica de bolachéu
com a lima africana, o mel da tâmara e o verdor da manga.
Esquecem, nem sabem, que à volta, todo este sangue era oriente e sul
no cravo dos ventos daquele claro pensamento
com o ponto norte dentro de si, e a sabença medonha e viril
que tudo é oriente para quem caminha face ao sol.
João Pedro Grabato Dias, Odes Didácticas
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