1.7.22

Pobreza e desânimo

Pode a pobreza partir de erros evidentes, é certo, mas nunca parte da vontade; pobreza voluntária só em certos circuitos religiosos, decisões individuais que vêm, não da falha ou da perturbação extrema, mas do seu contrário, de uma calma bem lúcida.

(...)

Outros, por seu turno, nada nas mãos trazem e os pés, lá em baixo, revezam-se, direito e esquerdo, numa triste lentidão que qualquer observador atento percebe.

E sim, por vezes, aqui e ali, no Quénia ou em qualquer outro país do mundo, o rosto de um desconhecido traz um desânimo portátil de quem está na última ou na penúltima caminhada. O que fazer? Meter conversa? Fingir que não se vê ou não se percebe?

Gonçalo M. Tavares, "O desespero", Expresso, 1 de julho


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