Imagens, texto e tristeza
dedicado a Andres Serrano
Certas imagens lembram certos versos – e os versos não são elementos orgânicos que se movam como os cavalos; são elementos parados, como árvores na linguagem; árvores, sim, que também crescem, no mesmo sítio, mas lentamente; um verso cresce permanecendo sempre no mesmo local da página, crescendo assim em quem o lê, espantado, pela primeira vez, pela segunda, pela terceira, pela quinta vez.
Certas fotografias paradas têm, então, o movimento de certos versos, também parados. E há, em algumas imagens, uma densidade que mede a curvatura da tristeza humana e animal com um qualquer instrumento desconhecido e impossível de descrever, mas exacto. A curvatura da melancolia começa na imagem que vemos, e termina depois no coração, órgão principal da inteligência e do choro.
A tristeza de alguém é incalculável quando vista de fora, como uma equação estranha que o melhor dos matemáticos não soubesse agarrar. Imagens e versos ajudam por vezes a entendê-la, mas sim, é uma equação informe: a tristeza dos outros.
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