4.2.19

Quando o velho é, afinal, o mais novo

TASSO:
Obedeci-te. Se de mim dependesse,
Ter-me-ia afastado logo dela.
Por mais amável que pareça ser,
Não sei porquê, com ela raramente
Me pude abrir. Talvez a intenção
Seja a de fazer bem aos seus amigos —
Mas sente-se a intenção e recuamos.

PRINCESA:
Por esse andar, não encontraremos nunca
Companhia que nos sirva! É um atalho
Que nos leva para bosques solitários,
Vales perdidos, e a alma, a pouco e pouco,
Cria maus hábitos, e busca construir
Dentro de si a idade de ouro que o mundo
Lá fora não lhe oferece, e o resultado
Será sempre o fracasso, podes crer.

TASSO:
Ah, que palavra, Princesa, que palavra!
A idade de ouro: foi para onde, essa idade
A que as nossas almas em vão aspiram?
Quando, como os rebanhos, pela terra
Livre se aventuravam homens livres,
Quando no prado em flor a velha árvore
Ao pastor e à pastora sombra dava
E os ramos tenros do bosque se entrançavam
Para dar abrigo aos suspiros dos amantes;
Quando o rio coleante e claro, na areia
Pura, abraçava a ninfa docemente;
Quando, na erva, a serpente assustada
Sem perigo se perdia, e a coragem
Do mancebo punia o fauno ousado;
Quando os pássaros no ar livre, e todos
Os animais, por monte e vale errando,
Diziam: «Farás o que te agradar!»

PRINCESA:
A idade de ouro, amigo, já passou;
E só os bons a farão regressar.
E se quiseres saber o que acho disso:
A idade de ouro, essa com que o poeta
Nos lisonjeia, esse tempo feliz
Nunca existiu, tal como hoje não existe.
E se existiu, então foi certamente
Aquilo que para nós sempre será.
Ainda hoje almas gémeas se encontram
Para partilhar a beleza do mundo;
No teu lema mudo uma só palavra:
«Farás aquilo que é conveniente!»

TASSO:
Se houvesse um tribunal universal
Composto de homens bons que decidisse
O que convém, em vez de cada um
Pensar que o que convém é o que lhe serve!
Não vês como aos poderosos, aos espertos,
Tudo se ajusta, e eles tudo podem!

Goethe, Torquato Tasso


Sem comentários:

Enviar um comentário