19.7.18

Desejo, esquecimento e pântano

O desejo é um modo de a realidade dizer que existe. O que espera de ti, não sabes. Mas é claro que o melhor é continuares no mundo que bem conheces. Aí ninguém te pode acusar de nada, tornas-te o ser puro ainda que o teu mundo se parta em dois. Não corras o risco de seres quem não sabes, dizes. A salvo do que desconheces ainda tens hipótese de seres tu, pensas, essa castidade ilude-te quanto à santidade. Esquece as tuas referências, as memórias em que te julgavas de substância divina, tenta o inumano, o demónio que escolhe. É preciso que julgues, é preciso que julgues.

Danças para te salvares enquanto morres. Deve ser isso. Ou então vives próximo de uma máquina que esconde tudo com eficácia. Uma máquina como o cérebro, também capaz de tudo esconder ainda com mais eficácia. Porém, pensavas que o pântano, esse sim, é que era o mais eficaz no esquecimento.



(Fotograma de Psycho, Hitchcock)


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