Se Bozena fosse pura e bela e nessa altura ele fosse capaz de amar, talvez a tivesse mordido, para elevar a sua volúpia e a dela até ao limite da dor. Pois a primeira paixão adolescente não é amor por uma pessoa, mas ódio a todas as outras. Sentir-se incompreendido e não compreender o mundo não são coisas que acompanhem a primeira paixão, são, e isso não acontece por acaso, a sua única causa. E ela própria é uma fuga na qual o estar a dois mais não é do que uma solidão duplicada.
Quase todas as primeiras paixões duram pouco e deixam um travo amargo. São um erro, uma desilusão. Quando tudo passa não nos compreendemos e não sabemos a que atribuir a culpa. Isso acontece porque neste drama as pessoas quase sempre se encontram por acaso: são companheiros casuais numa fuga. Quando tudo acalma, não se reconhecem. Apontam contrastes um ao outro, porque já não dão pelo que têm em comum.
Robert Musil, As perturbações do pupilo Törless
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