Conheço pessoas que andam na rua
como se fizessem um favor ao acto de andar. É perigoso julgarmo-nos
maiores que a nossa tarefa - explicava o senhor Valéry.
- Se a nossa tarefa for fixar um prego na parede...
(e ele desenhava)
- ...e se nos julgarmos mais inteligentes que essa tarefa, corremos o
risco de falhar o prego, acertando em cheio no nosso próprio dedo.
- Mas também não nos podemos considerar menos inteligentes que a
tarefa, pois por inibição corremos o risco de falhar outra vez o prego, e
dessa forma acertarmos, de novo, em cheio, no nosso próprio dedo.
- Deste modo - concluía o senhor Valéry - eu considero-me, em
qualquer situação, ao mesmo nível da tarefa. Nem sou seu chefe, nem seu
empregado. Eu e a minha tarefa somos coisas com igual inteligência que
num determinado momento partilham o Destino. E é só.
O senhor Valéry, Gonçalo M. Tavares
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