18.8.15

No laranjal do Vesúvio


Manoel de Oliveira, Vale Abraão, 1993


O lugar da mulher, a beleza, quando não excessiva. Se o for, é o mal, fomenta o desacerto, o ódio, a cobiça. Já a Lulu de Pabst é menos uma Circe e mais uma espécie de vide retorcida. Um mundo patriarcal - a mulher deve ser ornamento, não Castafiore. E depois o tédio, as servidões, o cerco das montanhas, dos pequenos dias do comum. Oscila-se entre moralismo e complacência, uma mulher fatal desorientada mas que não faz o que faz pelo vil metal nem pela sobrevivência em sentido estrito (talvez em lato, talvez). Porém o abraço à muda baralha as contas: o informulável do que somos e o descaso de sermos. A única pessoa de quem se despede, a Ritinha, clímax do filme. E ainda assim a noite feminina desse abraço, a deferência da câmara que é outrossim metafísica, literatura, amor. Mas do que gosto, do que gosto mesmo, são daqueles diálogos sem respeito com as mínimas regras do cinema mainstream, os olhares desencontrados, os corpos distantes, desalinhados, as conversas assim descosidas.




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