11.10.13

Restless, de Gus Van Sant

Restless: estar preso no triângulo familiar. Procurar libertar-se dele e dos seus fantasmas. Libertar o desejo, reativar conexões, fluxos, refluxos. Fugir do discurso papá-mamã, soltar o desejo deste cativeiro. É que, para além deste discurso, há coisas importantes - como a vida (lembra Deleuze).

Gus Van Sant tem dado protagonismo a adolescentes com frequência nos seus filmes. Perante isto, muitos dos seus detratores conservadores, de forma alarve, lembram a homossexualidade do cineasta. O que me parece, antes, é que Gus Van Sant intui que a adolescência é o período da vida durante o qual mais intensamente vivemos. Michel Houellebecq disse que todos nós somos órfãos dos amores que não vivemos na adolescência. A perda começa aí. 

O adolescente devasta o mundo só de olhá-lo com força, como escreveu Herberto. É ferido pelo que constrange o desejo, pelo que o limita e o explica. Simplesmente, há demasiada voracidade para ser contida em leis morais, em códigos. Por esta razão são errantes as personagens. Não sei se Gus Van Sant nos quer dizer que a neurose é inevitável. É possível que sim. A corroborá-lo está o facto de a família enquadrar os comportamentos dos adolescentes, o que faz as delícias de psiquiatras e psicanalistas. Geralmente, famílias disfuncionais - como todas, de resto. No caso de Restless, um dos adolescentes nem pais tem.

A nível formal, apreciei sobremaneira a presença quase intrusiva de uma luz outonal baça, que atinge os planos com uma leve mancha onírica, especialmente em sequências rodadas perto de um rio, em Portland, uma paisagem que teria agradado aos impressionistas, que, como se sabe, privilegiavam zonas suburbanas.













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