2.10.13

Dexter: finale

Será sobre o finale da série Dexter que vou tecer alguns apontamentos breves. É melhor que os fãs que ainda não o viram terminem a sua leitura por aqui.

E começarei pelo fim dele. Um plano de um estaleiro onde são armazenadas árvores, matéria-prima para indústria de celulose. Árvores empilhadas. Deslize metonímico: dos corpos reificados às árvores. A cena inspira-me não só Ralph Waldo Emerson como Heidegger: o vazio do estaleiro rodeado pelo ser. Dexter procurando um caminho pela floresta. Vemos Dexter num espaço raro: na errância da floresta. Há a ter em conta esse último convite da irmã Debra: para que escalassem juntos uma montanha. A cidade carece de urbanidade, apesar de a prometer (ainda assim, claro, talvez seja um milagre nos aguentarmos uns aos outros nela com relativa cordialidade). A barba de Dexter cresceu – há uma ordem que se perdeu. Estes sinais indicam-nos que não mais Dexter habitará aquela porção de mundo que pode controlar. Indicam-nos, enfim, certa permeabilidade. Contudo, convém não esquecer aquele olhar derradeiro de Dexter: não há redenção, ponto.

Dexter sozinho – a trabalhar. Assim acabam todos os elementos da secção de homicídios da Miami Metro: Batista, Quinn, Mazuka, Matthews, Debra. A série parece dizer-nos ser impossível amar quando há sempre que trabalhar. Se há redenção, é no trabalho – uma forma secular de misticismo. A falta de empatia que a oitava temporada debate não é apenas a de psicopatas – é a nossa. E, a esta luz, ganha um outro alcance a morte de Debra, após desativação, pelo irmão, das máquinas que lhe permitiam ir vivendo. Não vejo isto tanto como um assassinato, mas como um ato de amor (Debra lançada ao mar como uma Ofélia embrulhada em lençóis brancos). E de descrença, ao contrário de Quinn. E a Dexter resta-lhe refletir. De facto, uma parte substancial da série foi preenchida com os pensamentos de Dexter. Menos no final: apenas olhar, sem pensamento, apatia. Assim, se pretendemos uma caracterização do sujeito de hoje: falta de empatia, encerramento num mundo que se possa dominar, racionalismo, o trabalho como redenção substituta, apatia pura (já não usada como subterfúgio que permitisse exercer funções de caça).








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