26.6.12

Caos calmo

Pietro está em queda. Já antes da morte da mulher. É-lhe impossível fazer o luto porque está distante do que sente, porque o que sente parece não lhe dizer respeito. Tem uma boa carreira, protege uma imagem que foi criando. Em boa verdade, a boa carreira parecia não coadunar-se com os problemas da sua relação com a sua mulher. Não muito significativos, ao que nos é dado saber. Com adultério, mas, ainda assim, comuns. Fazer o luto dependerá de aprender outros rituais. Pietro não sabe bem quais, sabe o seu corpo que terá que fazer outras coisas. Desde logo o trauma parece ir-se resolvendo, primeiramente, parando-se. Afinal as coisas não podem continuar, nem continuar como estavam como se nada houvesse passado. E parar não é morrer, pelo contrário, parar constituirá o meio de Pietro reentrar no mundo simbólico, desta vez mais disponível para aquilo que o outro deseja, e, surpreendentemente, abrir-lhe-á novas possibilidades ontológicas. Todo um campo de decisões éticas a tomar se colocará à sua frente. O último passo é dar-se o espaço para sentir o que não parece ajustar-se à força de um líder, e à de um líder de uma empresa importante. Podemos bem chamar a isso amor. Ou responsabilidade. Ou ética.





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