28.7.11

Longe de Prometeu




O modelo humanista de ensino centra-se no desenvolvimento humano latu sensu, e não na aprendizagem de uma técnica (e isto não tem nada a ver com os cursos técnicos, aliás indevidamente esquecidos no pós 25 de Abril). Não concebe o aluno como uma jarra onde se depositem saberes. Não o vê como uma força maligna que é forçoso arregimentar. Dá-lhe espaço na medida do possível. A negociação, essa, é central. Na Escola da Ponte, a escola mais democrática de sempre em Portugal, os alunos fazem o regulamento interno da escola e por isso respeitam-no. Desrespeitá-lo é desrespeitarem-se. Autonomia do aluno no processo de aprendizagem não é sinónimo de falta de autoridade do professor. O professor tem que estabelecer regras com os alunos, e estes têm que saber (por eles, e não por castigo, seja a avaliação, seja a chibata) que têm que as respeitar.
Alguns políticos têm dito que qualquer português sabe mais de educação do que qualquer professor de uma Escola de Educação. O que ele queria dizer era que qualquer português sabe que o castigo - seja sob a forma de exame ou de outra coisa qualquer - é o melhor método de aprendizagem. Demito-me da necessidade de sublinhar as lacunas da escola de uma mítica «idade de ouro». Claro que a memorização importa, mas não é o mais importante. O importante é que falamos de educação, de formação de sujeitos, e não de standardização subjectiva. Às vezes as pessoas esquecem-se de que estamos a falar de educação. Educação, formação de cidadãos, preparação para o mundo. Um exame não prepara ninguém para uma profissão, muito menos para a vida. E também não é objectivo, não avalia competências e saberes melhor do que outros métodos formativos. A intenção é racionalizar (e empresarializar, já agora) um terreno movediço.
Creio que as escolas devem preocupar-se com permitir o igual acesso a cultura, com diminuir desigualdades, ao oferecerem oportunidades de ascensão social e ao prepararem culturalmente alunos de contextos socialmente desfavorecidos. E isso só se consegue se os bons alunos auxiliarem os maus, e não segregando. Por isso o debate deveria centrar-se, creio eu, em diminuir o número de alunos por turma, em descentralizar, em promover mais autonomia a cada escola para elaboração de currículos, programas, em convocar mais pais e alunos para as decisões fulcrais da gestão escolar. Por exemplo.



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