E como a morte ao fim de contas não é novidade, é pelo contrário excessivamente conhecida, sim, porque terminada esta destilação de vísceras não vemos, de facto, a imagem de um pânico já sentido? Ao que parece, a própria força do desespero restitui certas situações da infância em que a morte surgia muito clara e como uma imparável derrota. A infância conhece repentinos despertares do espírito, extensões intensas do pensamento que uma idade mais avançada volta a perder. Em certos medos pânicos da infância, em certos terrores grandiosos e não raciocinados onde está latente a sensação de uma ameaça extra-humana, é incontestável que a morte surge
como o rasgar de uma membrana próxima, como o levantar de um véu que é o mundo ainda informe e pouco seguro de si.
Antonin Artaud, A arte e a morte
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