Crueza bruta
18.9.25
Velocidades diferentes
12.9.25
A grande farsa
Limpeza étnica, pogroms, Lebensraum, genocídio (a 11/09, 72 palestinianos mortos em Gaza, 9 mortos a pedir comida, 7 mortes por fome e má nutrição). 'Presos', referem os jornais, jamais 'reféns' (culpados, pois, por não quererem ver destruídos ou alienados os seus bens, nem mortos os seus familiares e amigos). Marcha pelas estradas de Tulkarm de mais ou menos 100 homens para condenação geral, para serem humilhados. À volta de 1500 palestinianos feitos reféns por Israel ontem em toda a Cisjordânia. Por cá sem manchetes, sem notícias, em suposta democracia.
Adenda, Basel Adra e família em risco, entre tantos outros palestinianos:
2.9.25
Os índios de Israel
30.8.25
Hind Rajab
Hind Rajab. Evoco o nome e o rosto para evitar o silenciamento de tanta morte, esse apaziguamento calculado por estratégia económica e de carreira, modo discreto de prosseguir séculos de Censura em pouco mais de 500 anos de imprensa em Portugal. Não é um problema apenas português, pois a vassalagem ao poder americano é extensiva a toda a Europa (ainda que Espanha, Eslovénia, Eslováquia e Irlanda, ocasionalmente, se lhe oponham). Esta circunstância permite também perspectivar a crise global do jornalismo que, tal como os governos, se encontra refém da agenda supremacista da extrema-direita. Seria preciso fazer a devida vénia aos exemplos de coragem que vêm de Gaza, com, à data, desde 7 de outubro de 2023, 270 jornalistas assassinados pelo seu ofício em nome da liberdade. Os mesmos a quem, por estes lados, num viés racista que contribui ainda mais para desumanizar o povo palestiniano, se atribui pouca credibilidade.
Hind Rajab é o nome de uma menina de cinco anos que fugiu de carro, em Gaza, com a família, no dia 29 de janeiro de 2024. O IDF havia dado ordem de evacuação aos habitantes do bairro Tel al-Hawa. Nem dez minutos depois da saída de casa, a fuga é bloqueada por um tanque israelita. Uma prima de Hind faz uma chamada de telemóvel para o Crescente Vermelho (equivalente da Cruz Vermelha) e pede ajuda. Nas gravações da conversa telefónica, durante seis segundos escutam-se 64 tiros de metralhadora. Pesquisas da Forensic Architecture mostram consistência entre os orifícios provocados pelas balas no carro e as armas dos tanques israelitas. A família da menina é executada; Hind Rajab é a única sobrevivente e mantém-se no assento de trás da viatura. Atende a chamada de uma operadora do Crescente Vermelho que, entretanto, procura pôr-se a par dos acontecimentos. Falam mais do que uma vez durante vários minutos e Hind pede ajuda: está fechada no carro com os corpos mortos da sua família, dois adultos e quatro crianças. A gravação de uma conversa em que Hind pede que a vão buscar e só obtém silêncio, é atroz, expõe a operadora a uma impotência ainda mais escandalosa quando confrontada com o exercício arbitrário de poder que, desde logo por sê-lo, é destituído de qualquer empatia. Após longa espera de autorização israelita, é enviada uma ambulância ao local, cerca de 9 horas depois. Quase duas semanas depois, a 10 de fevereiro, os paramédicos são encontrados mortos (a ambulância explodiu com um projéctil israelita) e a própria Hind, dentro do carro. O IDF tinha conhecimento, como se infere, de que a ajuda médica iria até ao local. Investigações da Sky News e do Washington Post confirmam presença militar israelita naquela zona à hora do massacre. As perícias da Forensic Architecture contabilizaram um total de 335 tiros cravados no carro desta família em fuga. Serão decerto estas pessoas contabilizadas como baixas terroristas nalgum relatório de sintaxe funcional para justificar guerras ao terror e, ipso facto, garantir novos financiamentos para esse efeito da parte das assim chamadas democracias ocidentais.
Esta carnificina motivou a criação do filme The Voice of Hind Rajab da realizadora tunisina Kaouther Ben Hania, com apoio à produção de, entre outros, Brad Pitt e Joaquin Phoenix. Estreará no Festival de Veneza que decorre por estes dias.
À parte as opções da cineasta, a História é isto, ceifar de modo inapelável vários anjos, como Hind, em face do triunfalismo dos vencedores. É por isso crucial desviar o olhar ainda que sempre no-lo desejem dirigir, falar num outro tom, destutelar-se de qualquer intenção humanista para continuar o grito de quem sofre, para lhe dar forma. Esse será um dos desígnios da Hind Rajab Foundation entretanto constituída.
Força e linguagem
28.8.25
A evidência
Variações sobre a vergonha
22.8.25
Férias ao sol
18.8.25
A disjunção emocional e a má-fé pela mão dos outros
17.8.25
Transcrição da utopia para a realidade técnica e operacional
Em Westerbork
16.8.25
Dar mortos pela liberdade
15.8.25
Barcos e poder
11.8.25
Vicariously I live while the whole world dies
10.8.25
O genocídio ao almoço
9.8.25
«Se Deus não ajudar, hei-de eu ajudar a Deus»
15 de Setembro de 1942. Terça-feira de manhã, às dez e meia.
Enquanto estou a escrever isto, sinto que é bom eu ter de ficar aqui. Vivi tão intensamente nos últimos meses que de repente me parece, vendo as coisas agora: nuns meses gastei as provisões para uma vida inteira. Talvez tenha sido demasiado temerária na minha vivência interior, de maneira que esta alagou todas as margens, ou não? Não fui demasiado temerária, se escuto este aviso teu.