13.2.15

Jovem e bela, de François Ozon



Isabelle está apenas interessada em experimentar. Não encontro motivação psicológica ou de outra natureza: nem desengano, nem compensação narcísica, nem frustração. Apenas o desinteresse da adolescente – para mim o filme é sobre um período da vida humana, não sobre esta adolescente – por tudo. A esse desinteresse soma-se o cálculo das possibilidades da existência. A melancolia adolescente decorre sobremaneira da abertura do mundo: que vou ser, que vou fazer, há opções, devo escolher. Da consciência de que não há ordem. O negrume, servindo-me da expressão de Luís Miguel Oliveira, tem esta origem, do meu ponto de vista. Não vejo em Ozon nenhum fundo moral – somente o tratamento belo e corajoso da adolescência, sem cedências à grelha politicamente correcta. Como sucede no cinema de Haneke, por exemplo, também Ozon se serve de personagens da classe média/burguesia: Marine não é prostituta por ser pobre e, por aí, torna-se inescapável uma leitura estética do filme, o qual não cede às determinações redutoras de muita sociologia, que concebe o ser humano como um produto das circunstâncias, isto é, como um ser sem liberdade e sem ethos. Isabelle exerce a sua liberdade, experimenta-se, procura com algum alheamento uma ordem. A melancolia é a nostalgia da ordem: Isabelle subindo as escadas rolantes da estação metropolitana, dirigindo-se a um não-lugar, o hotel, encarnando a gestora que executa de forma liminar a sua função. Uma cara para a família, outra para o trabalho. E muito cruamente a prostituição – a auto-mercantilização – como o mais frequente comportamento do neurótico contemporâneo. De certa maneira, Isabelle executa o que dela espera a comunidade. Isabelle decide prostituir-se depois de assistir a uma reportagem sobre a prostituição entre as estudantes universitárias (toda a negação tende a engendrar uma denegação). E nessa vertigem procura todavia um pouco de ternura, da ligação humana sem o espectro do interesse (um clássico do cinema e da vida). Françoise Hardy partilha com Isabelle o mesmo desamparo mas com matizes diferentes. Hardy vem revelar o negrume – esse sim – da idealização amorosa, que jamais havia sido feita por Isabelle. Se tivesse levado Rimbaud a sério, arrisco ao pensar neste encontro, Françoise Hardy teria sido uma Isabelle.

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