31.3.13

Perplexidades


Há algo que me vai deixando perplexo. Nos dias seguintes ao 11 de setembro, Rudolph Giulliani disse aos novaiorquinos: «go shopping and start flying!». O mandamento é claro e diz do que é o capitalismo: um fluxo de capital que não pode parar. Ora deixa-me perplexo que muitos dos inimigos do capitalismo, sobretudo os enquadrados numa extrema esquerda, digam hoje bem alto que é preciso produzir mais, imprescindível o crescimento económico, inevitável reanimar o mercado interno. Isto é, todos defendem o mandamento capitalista de acordo com o qual devemos produzir mais e mais, incessantemente, como a possível saída do buraco. Isto é, os seguidores deste argumentário colocam-se do lado do capitalismo. Sei que antes de se colocarem (mais ou menos inconscientemente) do lado do capitalismo estão do lado das pessoas cuja vida tem sido assolada por esta tremenda loucura. Curiosamente, ou não, este argumentário é defendido pelos liberais, desde sempre. Talvez fosse este o momento indicado para serem apresentadas soluções sistémicas doutra ordem se é que as há (advirto desde já que não embarco em fins da história & quejandos). Parece-me evidente que os princípios de base de certa esquerda radical entram em curto-circuito com as soluções que agora apresentam para a crise. A minha posição? Claro que o capitalismo tem falhas e que não é um sistema inevitável. Falta-lhe a regulação económica e financeira que até aos anos 70 houve. A Organização Mundial do Comércio poderia regular um pouco mais a produção económica, evitando por exemplo o dumping, a concorrência desleal e a miséria de milhares de trabalhadores. Os Estados perderiam soberania, mas creio que terminar com os paraísos fiscais seria outra boa solução. No fundo, desconfio de certo delírio cinético, esse que é o cerne da modernidade. O que torna especial o século XXI é que vem a seguir ao século XX, disse Gonçalo M. Tavares. E Slavoj Zizek complementa o raciocínio: no século XX procurou-se em demasia transformar tudo. Talvez seja avisado que o século XXI se dedique mais a pensar de que a fazer. Pelo menos, para já.




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