Há algo que me vai deixando
perplexo. Nos dias seguintes ao 11 de setembro, Rudolph Giulliani disse
aos novaiorquinos: «go shopping and start flying!». O mandamento é claro
e diz do que é o capitalismo: um fluxo de capital que não pode parar.
Ora deixa-me perplexo que muitos dos inimigos do capitalismo, sobretudo
os enquadrados numa extrema esquerda, digam hoje bem alto que é preciso
produzir mais, imprescindível o crescimento económico, inevitável
reanimar o mercado interno. Isto é, todos defendem o mandamento
capitalista de acordo com o qual devemos produzir mais e mais,
incessantemente, como a possível saída do buraco. Isto é, os seguidores
deste argumentário colocam-se do lado do capitalismo. Sei que antes de
se colocarem (mais ou menos inconscientemente) do lado do capitalismo
estão do lado das pessoas cuja vida tem sido assolada por esta tremenda
loucura. Curiosamente, ou não, este argumentário é defendido pelos
liberais, desde sempre. Talvez fosse este o momento indicado para serem
apresentadas soluções sistémicas doutra ordem se é que as há (advirto
desde já que não embarco em fins da história & quejandos). Parece-me
evidente que os princípios de base de certa esquerda radical entram em
curto-circuito com as soluções que agora apresentam para a crise. A
minha posição? Claro que o capitalismo tem falhas e que não é um sistema
inevitável. Falta-lhe a regulação económica e financeira que até aos
anos 70 houve. A Organização Mundial do Comércio poderia regular um
pouco mais a produção económica, evitando por exemplo o dumping, a concorrência desleal e a miséria de milhares de trabalhadores. Os Estados perderiam soberania, mas creio que
terminar com os paraísos fiscais seria outra boa solução. No fundo,
desconfio de certo delírio cinético, esse que é o cerne da modernidade. O
que torna especial o século XXI é que vem a seguir ao século XX, disse
Gonçalo M. Tavares. E Slavoj Zizek complementa o raciocínio: no século
XX procurou-se em demasia transformar tudo. Talvez seja avisado que o
século XXI se dedique mais a pensar de que a fazer. Pelo menos, para já.
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